Newsletter

sábado, 7 de novembro de 2015

Resenha e Teoria: Dreaming Sarah

Olá, pessoal! Estou de volta hoje com mais uma postagem, desta vez venho para falar de um jogo super curto e simples, mas que me conquistou completamente: Dreaming Sarah!




Dreaming Sarah é um jogo estilo plataforma de exploração/puzzle, onde você deve encontrar objetos e ajudar NPCs para seguir adiante, desbloqueando novas áreas e fazendo progresso no jogo.



A história é simples, mas desde o começo aberta a muitas possibilidades: Sarah está em coma e precisa acordar! Mas o que aconteceu com ela? Será que a resposta está neste mundo de sonhos onde ela é obrigada a vagar? Espere muitos elementos aleatórios – ou talvez... metafóricos – neste jogo onde uma atmosfera muito bem construída vai te embalar do começo ao fim.

A jogabilidade é bem simples, similar a qualquer jogo de plataforma, e a arte de pixels é nostálgica e agradável, combinando perfeitamente com a trilha sonora em qualquer momento do jogo. Os items que você vai buscar durante o jogo vão se dividir em dois inventários diferentes: um inventario de acesso rápido, para itens equipáveis, e o inventario geral, acessado ao pausar o jogo, onde ficarão os items requeridos para missões.



DICA: Isso implica que os itens não equipáveis são usados automaticamente. Não precisa se preocupar em ficar pausando o jogo a todo momento e experimentar os items um por um na esperança de algum te ajudar a fazer progresso. Em compensação, os items equipáveis exigirão uma dose de bom senso sobre quando usá-los.

BONUS: Dreaming Sarah é um jogo nacional! Ao comprá-lo você incentiva a indústria brasileira de games (que, cá entre nós... está mesmo precisando de incentivo!)

Com isso encerro essa pequena resenha pra quem ainda não se aventurou nos sonhos de Sarah... Mas se você já jogou até o final pode acompanhar algumas de minhas conclusões sobre o jogo clicando em Continue lendo.

!!!ALERTA DE SPOILER!!!

Não prossiga para o post completo se não tiver jogado Dreaming Sarah até o final e não quiser levar spoilers!



Eu simplesmente AMO a temática dos sonhos, tanto nos jogos quanto na vida real. Acredito que sonhos são interpretativos e nos dizem coisas sobre nós mesmos que nem imaginávamos. Então, por que não analisar os sonhos de Sarah profundamente?

Vamos primeiro olhar para os items equipáveis do jogo.


Temos um guarda-chuva (o primeiro coletável encontrado, te ajuda a passar as plataformas), uma lupa (que faz Sarah encolher), um balde de tinta (que muda as cores da roupa da personagem), um colar (que permite explorar embaixo d’água ao transformar Sarah em um peixe), uma bussola que aponta para os objetivos do jogo, um óculos que revela coisas invisíveis quando usado, pílulas que te levam de volta ao ponto inicial do jogo e um relógio (capaz de desacelerar o tempo).

Perceba algo interessante: Todos (com exceção da bússola) são items facilmente encontrados na bolsa de uma mulher! Espera! E o balde de tinta? O balde de tinta não é um balde, verdadeiramente falando! Ele é só uma troca de roupa! Além disso, é o único item sem nenhuma funcionalidade aparente no jogo, uma vez que você não precisa dele para passar nenhum desafio. Já a bussola, apesar de incomum, é um item facilmente carregável.

Já os items não equipáveis são mais randômicos, e não me parecem ter qualquer conexão entre si: um saco de sementes, uma bala de revolver, uma boneca de vodu, um boné, uma carteira de identidade embaçada e uma carteira de ônibus.  


Agora vamos analisar os cenários. Tudo começa numa floresta, onde você pode encontrar passagens para todos os lugares. Essa floresta provavelmente é uma representação das memorias de Sarah, ou até mesmo de sua mente como um todo. Um dos primeiros lugares ao qual você tem acesso é uma edificação roxa, na qual você passa por um elevador antes de poder explorar. Dentro dela... Milhares de olhos apontados para você! E um olho muito maior, que te observa atentamente.


Essa edificação, em minha opinião, representa o ambiente de trabalho de Sarah. Um lugar onde a atmosfera não é boa, todos a julgam, especialmente o seu chefe, representado pelo olho maior. Até mesmo o passeio de elevador é assustador: as lâmpadas piscam, o cenário treme e o som não é agradável. Isso mostra a ansiedade assolando Sarah a cada vez que ela tem que ir trabalhar!

Mais adiante no jogo, você encontrara o documento de identidade de Sarah. Você precisará dele para beber no bar, mas quando mostrá-lo ao barman, este dirá que sua imagem é quase irreconhecível. Isso mostra que, além de estar descontente com o trabalho, Sarah está tendo dificuldades de encontrar a si mesma na vida. Ela está passando por uma crise de identidade! Mas se isso está correto... Por que? O que a tem feito se sentir assim?

Vamos analisar agora a personalidade de Sarah, para tentar entender o que a está abalando. Pra começar, a cena do gato morto: uma das minhas favoritas. Você a encontra após passar alguns obstáculos nas profundezas de uma caverna escura, dentro de uma mina! Ou seja, essa cena do gato morto é uma memória, uma memória muito profunda, enraizada no subconsciente de Sarah, talvez até mesmo como um trauma de infância!


Nessa mesma caverna, você encontra alguns vagalumes, e coletar todos te dará uma chave em forma de coração. Voltando para a floresta, você pode acessar uma cabana, cuja porta tem um coração! Nesse momento você estará entrando literalmente no coração de Sarah, em suas emoções mais intimas! Mas o que você verá não é tão belo quanto esperado... A cabana tem um clima sombrio e confuso, quase labiríntico. Olhando com atenção, você pode ver que se trata de uma bela mansão, mas que agora está coberta de trevas.


Duas coisas muito importantes são notadas agora: você pode acessar o coração pela floresta – As memorias mais vividas de Sarah – ou pela mina – As memorias mais profundas, escondidas no seu subconsciente – isso mostra que Sarah é um pessoa muito guiada pelas emoções! Quer mais uma prova disso? Está na segunda observação sobre o coração. É nele que você encontra os óculos – capazes de ver coisas que você antes não via – Sarah não é uma pessoa guiada pela lógica, pela mente! Ela é uma pessoa que olha o mundo pelo seu coração! Pelo filtro de suas emoções!

Vamos para uma última prova disso: As pílulas. As pílulas mais comum que as mulheres tomam são, é claro, os anticoncepcionais. São pílulas diárias para controlar um ciclo mensal de ovulação. Um ciclo. Por isso elas te levam de volta ao começo. Mas o interessante não está no que elas fazem ou pra que servem, mas aonde foram encontradas: um lugar frio, estranho, e que você só pode acessar uma vez no jogo! E daí? Sarah não gosta de usar as pílulas! Elas podem tornar as coisas mais práticas e fáceis, mas não são naturais pra ela! São coisas estranhas e frias, que a impedem de gerar vida. Se Sarah tem medo da morte, e um grande medo, se pensarmos no tamanho do gato, quanto valor ela dá para a vida?


Na minha opinião, Sarah é uma pessoa amorosa, quase inocente, mas que sofreu um abalo grave, e eu não estou falando de seu coma. Acredito que Sarah perdeu alguém importante pra ela, e isso a abalou antes mesmo do acidente. Várias pequenas observações podem ser feitas que provam isso: Algumas pessoas somem no começo de jogo e não aparecem mais: O pescador, o garotinho que perdeu o boné, o homem próximo a cabana, que lhe dá um saco de sementes. Além disso, vários outros personagens morrem ou já estão mortos no decorrer da história, como o pianista, o fantasma dentro do coração de Sarah, todos no clube noturno.

Mas quem ela perdeu? O coma em que Sarah está foi causado por um acidente de carro. Isso é revelado após Sarah conseguir a carteira de identidade e beber. Na cena de seu acidente, você pode encontrar três esqueletos de pássaros andando juntos, muito longe da cena do acidente, e um último andando sozinho. Isso fez meus pensamentos mudarem. Sarah não perdeu um ente querido. Ela perdeu 3. Pai, mãe, irmão, namorado, eu sinceramente não sei qual. Para Sarah, uma pessoa tão emotiva, qualquer perda seria um grande abalo. Por isso, sua vontade se se juntar ao seus entes perdidos caminha ao encontro deles. O último passarinho representa Sarah, não em um desejo controverso pela morte, mas com medo de ficar sozinha.


Não há outros carros onde Sarah sofreu o acidente.

Observe as montanhas ao fundo aqui.

O final do jogo é em uma ponte. Há um buraco no parapeito de concreto.

Observe as montanhas de novo. Elas estão de volta.

Será que Sarah causou seu próprio acidente, jogando seu carro pela ponte? Ou será que esse acidente, um mero acaso, é o que realmente vai resgatar Sarah de suas próprias sombras?

Pouco antes da ponte onde o jogo termina, você falará com o “Doutor”. Ele te dará o relógio que te permitirá passar pelos obstáculos finais. Uma das frases que ele fala diz que Sarah tem 35 anos. 35 anos? E precisou de uma carteira de identidade num bar, algumas fases atrás?

E Sarah se perguntou: Sera que é isso mesmo que eu quero? 
Na ponte onde o jogo termina há uma senhora idosa. Essa senhora pergunta se Sarah está no caminho que realmente quer seguir. Mas a partir desse ponto, já não há mais volta no jogo. Mesmo com o relógio, você não pode fazer o caminho reverso pelos obstáculos, o que me faz pensar: O tempo está passando! Acorde logo! Esta senhora idosa na ponte... eh a Sarah! Por um momento Sarah dúvida se deve realmente acordar, mas decide seguir em frente e... abraça o destino, saltando da ponte! Um a um, seus items desaparecem. São apenas memorias, como todo o jogo.


Sarah acorda no hospital, uma expressão surpresa, flores na cabeceira, ela não está sozinha apesar de tudo! E a vida irá recomeçar em cores de novo pra ela, talvez.

O jogo conta com um final levemente diferente, se você não pegar nenhum item. Ao acordar, Não haverá flores na cabeceira e Sarah terá uma expressão desanimada. Isso porque o coma serviu para que ela revirasse todas suas memorias, seus medos, e reconciliasse-se consigo mesma. Não pegar os items, negando suas próprias memorias, é como guiar Sarah de volta a crise que a abalava.


E assim, encerro essa gigantesca teoria. Peço desculpas a todos pelo texto enorme, mas se você gostou desse jogo tanto quanto eu talvez consiga chegar até aqui comigo! E vocês, alguma teoria?

UPDATE: Nos fóruns de discussão da Steam, o jogador Easy Shot veio com uma teoria muito interessante, onde Sarah teria cometido aborto e tentado suicídio apos um estresse pós-traumático que isso lhe causou. Assim as pilulas não seriam contraceptivas como eu pensei, mas abortivas. Achei interessante compartilhar aqui.

Comente com o Facebook:

3 comentários:

  1. Fico feliz que tenha gostado tanto do jogo. Minha ideia com ele foi justamente fazer com que as pessoas deduzissem o que aconteceu só pelos ocorreres do jogo. Prefiro não comentar no que é "certo" ou "errado" porque o mais importante pra mim é que cada jogador crie sua própria opinião sobre o que acontecer com a Sarah. Fico feliz que tenha gostado tanto! Obrigado! :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. WOOOW e eu fico muito feliz que o criador do jogo tenha vindo ver minha postagem! Acho que eu prefiro mesmo o gostinho de duvida entre o certo e o errado, se eu tivesse todas as respostas jamais estaria tao interessado em entender as entrelinhas. Fico feliz em apoiar ideias geniais como esse jogo, e mais ainda quando partem de uma mente conterranea. Agredeco muitissimo pela visita, fera!! Espero ver mais e mais trabalhos seus adiante!

      Excluir
    2. Wow o criador do jogo respondeu. Show de bola , eu comprei o jogo e não me arrependi nem pouco, e não parei até conseguir todos os itens e objetivos , a história ficou um pouco confusa pra mim por estar em inglês , me fazendo vir procurar respostas no google , fiquei feliz com o que o central nerd postou e gostei mais ainda de ver a resposta do criador do jogo. Espero ver mais jogos , faço questão de comprar.

      Excluir